segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quando o biológico não é o melhor…

Ora cá estamos mais uma vez após uma pausa de quase duas semanas. Não foi por falte de noticias, felizmente essas nunca escasseiam, mas nem mesmo aquele circo que foi armado pelo mui ilustre Mário David (desconhecido até então mas cuja situação até lhe rendeu uma página no wikipedia) me despertou especial interesse para iniciar mais uma entrada neste meu cantinho.

Ao contrário do que o meu titulo possa sugerir, não vou falar de transgénicos, latifúndios ou da sobre exploração de galináceos através da utilização de luzes artificiais… Venho então mostrar a minha indignação pela repetida escolha por parte dos nossos tribunais em julgar a favor das famílias biológicas, como se o sangue falasse mais alto do que a razão. Muitos já não  se devem lembrar (eu pelo menos já me tinha esquecido) do caso Alexandra, mas de vez em quando a comunicação social até demonstra alguma competência.

Para quem não sabe do que estou a falar (talvez por só agora ter renunciado ao eremitismo) faço um pequeno apanhado. A história é incrivelmente simples, uma mulher de nacionalidade russa, que tinha hábitos duvidosos (de entre os quais o abuso de bebidas alcoólicas e de dar mais do que umas “palmadas pedagógicas” na filha), foi auxiliada por um casal português. Às páginas tantas deu a sua descendência à dita família que criou a menina como sua filha. Após uns anos nessa situação (a menina nem sequer falava russo), a mãe lembrou-se que afinal queria levar a filha para a sua terra natal, recorreu aos tribunais, e sem qualquer espanto a “justiça” deu toda a razão à mãe biológica (quem não se lembra do caso Esmeralda e de um outro que terminou tragicamente na morte da criança?). Tivemos portanto mais uma decisão judicial que não protegeu a criança (que é quem precisa de protecção). Passados poucos dias, numa chocante reportagem vê-se em primeira mão a mãe a abusar da menina agredindo-a violentamente e de forma injustificada (só espero que essas imagens tenham ficado bem cravadas na mente de quem deliberou o envio da Alexandra para o terror em que se tornou a sua vida). Agora (vi hoje a reportagem na RTP) a situação tomou tais proporções que são as próprias autoridades russas (que antes vieram também em defesa da mãe) que ponderam retirar a criança a Natália Zarubina (mãe), embora, ironicamente, avancem com a impossibilidade de a devolverem aos pais adoptivos uma vez que dizem não ter confiança num estado que envia uma criança para uma mãe bêbada e abusadora como Natália.

Pondo de parte os conflitos diplomáticos e os falsos moralismos, quem é que pode concordar com decisões judiciais deste calibre? Quem é que no seu perfeito juízo e de consciência tranquila pode tirar a guarda da criança, de uma família que mesmo com dificuldades a acolhe e a trata como verdadeira filha e a manda para o inferno que é a vida com uma mãe alcoólica e abusadora? Entristecem-me estas situações, fazem-me pensar que estamos num país retrógrado que se recusa a encarar as situações de frente…

Pois é verdade, quem me conhece sabe que não sou pessoa que goste de crianças, essencialmente afligem-me, mas revolta-me profundamente esta sociedade de falsas morais. Revolta-me a sociedade que se esconde por trás de frases feitas e sem significado como “as crianças são a alegria do mundo” ou “as crianças são o futuro”. Elas não são nem uma coisa nem outra. Elas são o fruto das nossas acções, muitas das vezes acções egoístas, irreflectidas ou acidentais. São seres que vieram ao mundo por nossa causa, por isso é bom a que as respeitemos e que como sociedade possamos proporcionar-lhes um futuro e não as condenemos à tortura e à miséria. É imperativa uma mudança de atitude, não para que as crianças sejam o futuro, mas para que possam ter um futuro.

Um grande bem haja,
GN

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