quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

E lá está a CP a fazer das suas

Ora cá estou de novo. Ando a tentar aumentar o numero de posts que aqui publico e, seguindo a opinião que o meu amigo Jorge me deu há já uns meses, publicando posts mais pequenos pode ser que mais alguém tenha paciência para os ler! (Deus sabe como o acumular de letras pode dar nós em muitas cabecinhas)

Hoje falarei desta bela empresa que é a CP. Tragicamente (começamos bem) sou utente dessa transportadora. Não me interpretem mal, até gosto de andar de comboio, é um transporte simpático, relativamente rápido e confortável. O que me aborrece de sobremaneira é a forma como a CP resolve tratar os seus utentes... Como que por magia, sempre que é altura de festas ou feriados com possibilidade de ponte há sempre "perturbações" na linha, isto quando se dão ao trabalho de anunciar o que quer que seja. Hoje, por exemplo, ninguém deu "cavaco ao povo". O comboio simplesmente não apareceu à hora prevista e pronto que quiser que espere mais 20 minutos. Logicamente que antes de vir para aqui barafustar resolvi procurar no site da CP algum comunicado que tivesse sido gentilmente disponibilizado por tal empresa, mas aparentemente não há nada por lá a não ser anúncios de supressão para os dias 24 e 25 de Dezembro. Eu sei, como empresa pública que é, o respeito pelos seus clientes está longe de ser uma prioridade, mas não deixa de ser indelicado da parte deles para com o cliente que paga (e já não é tão pouco quanto isso) para ser servido. Ainda por cima nem lhes passa pela cabeça devolver dinheiro aos clientes pelos serviços não prestados, que, só este ano, entre brincadeiras de supressões não anunciadas e greves mais ou menos injustificadas já dava para dar uma pequena ajuda para as compras de Natal!

Pois é verdade, numa altura em que se deveria apostar cada vez mais nos transportes públicos (tanto por razões ecológicas como económicas, pessoais, nacionais e globais) temos esta espécie de gestão mal amanhada de uma rede de transportes que ainda tem também muito por desenvolver.

Novamente um Bom Natal a todos,
GN

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O facebook já falecia....

Ora boas. Após nova longa ausência, aqui venho eu "malhar" em mais umas coisas! Desta vez não é sobre politica, essa já não tem ponta por onde se lhe pegue e aparentemente também ninguém me liga nenhuma por isso não vale a pena.

Quem me conhece sabe bem da minha aversão por essa rede social que dá pelo nome de facebook. Em boa verdade, por qualquer rede social, mas dado o mediatismo desta em particular nutro um ódio visceral por aquela "coisa". As razões são varias, mas pessoalmente vejo essas redes sociais como a actualização das "vizinhas à janela"... Tudo a cuscar a vida uns dos outros, a tentar perceber quem é amigo de quem, quais os romances que andam no ar e todo um sem numero de outras coisas de interesse duvidoso... Eu cá n tenho paciência pra essas coisas... Não me interessa o que é que o João diz da Isabel, ou que a Ermelinda tenha gostado da foto do Ruben e muito menos que um tipo que não conheço de lado esteja a fazer conversa de engate para alguém que também não conheço tão bem quanto isso e muito menos que alguém com demasiado tempo nas mãos esteja a pedir ajuda para colher beterrabas na sua quinta virtual!

Sejamos sinceros, as redes sociais existem para quem não tem uma vida social normal, quem está profundamente interessado na vida alheia ou para quem anda no engate fazendo colecções de centenas ou milhares de "amigos". Sim, eu também tenho facebook.. Não o actualizo desde que foi criado e não tenho paciência para aquilo, mas actualmente é infelizmente quase obrigatório ter tal coisa e devido a projectos pessoais terei de ganhar coragem para começar a meter-me a serio naquele inferno e a actualizar o que tiver de ser actualizado com alguma frequência. Mas as obrigatoriedades do facebook estão a ir cada vez mais longe, já se perdeu o controlo... Foi com uma profunda indignação que no passado dia 20/12/2010 ouvi no noticiário que a TAP estava a cancelar alguns voos para Londres por causa do estado do tempo, até aqui tudo bem (excepto para quem tinha já voo marcado claro está), o que me deixou completamente "passado" foi no comunicado dizerem que antes de irem para o aeroporto os clientes que consultassem o facebook da empresa para saberem mais noticias!!! Mas está tudo doido? Mas o facebook lá é mecanismo de comunicação oficial para o que quer seja? Só falta o Presidente da Republica também passar a limitar os seus comunicados às redes sociais... Não estamos propriamente a falar de uma loja de roupa de fundos limitados que acha que o seu target se adequa a comunicações por essa via! Estamos a falar da transportadora aérea nacional! O mínimo que se pede é que tenha canais de informação sérios! E não, o facebook não é um canal de informação serio...

E pronto, com mais este desabafo vos deixo. Um bom Natal a todos.

Um grande bem haja,
GN

sábado, 5 de junho de 2010

E quem não salta quer educação!

Mas Portugal salta...
Ora boas, regressei mais cedo do que esperava. Confesso que só me via a escrever aqui uma nova entrada na próxima semana, com alguma observação sobre o estado de alienação dos portugueses graças ao campeonato do mundo de futebol (como se fosse preciso uma desculpa para nos alienarmos da vida cívica)... No entanto hoje ao ver as noticias da hora de almoço pensei: "será que esta gente perdeu o pouco juízo que tinha?".

O noticiário trouxe novas interessantes. Duas delas foram apresentadas pela ministra da educação. Uma referente ao fecho de mais de 500 escolas primária e a outra dizia respeito à ideia peregrina de passarem automaticamente para o 10º ano os alunos do 8º que tenham já mais de 15 anos. Por ultimo, o noticiário deu-me também a entender uma coisa trágica, a nossa verdadeira preocupação nacional é: "será que podemos contar com o Nani e o Beto para a África do Sul?".

O fecho de mais de 500 escolas primárias é preocupante a meu ver. Mais uma vez estamos a seguir uma lógica economicista e particularmente cega quanto à nossa realidade. O critério não podia ser mais básico, se tem menos de 20 alunos, fecha. Então e o que se vai fazer a esses 20 alunos?
Há anos que se fala no combate à desertificação. Dinheiros públicos têm sido gastos, por vezes mesmo esbanjados, em infra-estruturas que alegadamente dão  melhor qualidade de vida a quem vive no interior e impede assim a contínua migração para o litoral (nomeadamente Lisboa e Porto). A pergunta que se impõe, para mim que sou lisboeta e que me tento por na pele de quem vive no interior de Portugal, é então, o que me faria escolher (ou não) o interior em relação a uma grande cidade?
Tipicamente os governos têm optado pelo tipo de medidas "para inglês ver", ou seja, betão. Constrói-se uma auto-estrada sem portagens (que já se viu que não é sustentável) e assume-se que está tudo bem no paraíso. Entretanto aparecem este tipo de medidas de fecho de escolas, centros de saúde, e todo o tipo de instituições sociais que fazem particular sentido nas povoações mais isoladas. Claro que sei que não é possível ter uma escola em todas as ruas nem um centro de saúde para cada "meia dúzia" de pessoas, mas este tipo de medidas avulso são apenas formas de gastar onde não se deve, poupar no que faz falta, e no fim, não definir qualquer rumo para o futuro.

O ponto dois da ministra é a triste ideia de se fazer uma passagem directa do 8º para o 10º para os meninos com mais de 15 anos. A desculpa não podia ser melhor e baseia-se em ser "uma situação muito difícil para o aluno" e em "não poder desmotivar os alunos sob pena deles abandonarem as instituições". Vá, vamos lá falar sério, estão os nossos governantes a trabalhar a favor ou contra o país?
As reformas da nossa educação têm sido verdadeiramente anedóticas. A obrigatoriedade do ensino de 12 anos, a quase impossibilidade de se chumbar um aluno, os programas das novas oportunidades, e agora isto... Quando se fala em problemas estruturais em Portugal, é isto que eu vejo. Problemas estruturais não se corrigem em 3 anos, nem numa legislatura ou mesmo duas. Problemas estruturais corrigem-se em décadas de trabalho e este é o melhor dos casos de exemplo. Quem está hoje a receber educação será o eleitor e o governante de amanhã. Como podemos esperar alguma coisa dessa geração que não teve objectivos a cumprir? É uma geração a quem se está a dar habilitações que não têm e a quem se está a dizer que não precisam de estudar nem de lutar para terem direito ao que quer que seja. Mais, a nossa, actualmente péssima, competitividade só tem a perder com isso. Como podemos nós competir no estrangeiro quando a nossa exigência interna é tão miserável?
Mesmo tecnicamente faz-me confusão como é que a ministra da educação, ela própria uma professora, pode achar que faz algum sentido um aluno saltar assim dois anos nessas condições. São anos fundamentais para a formação académica de qualquer estudante! Como é que um aluno que não tem vontade ou capacidade para terminar o 8º ano vai passar do 10º? Só mesmo criando mais uma excepção que diga que aos 18 anos ficam todos com o 12º sem nunca se terem dado ao trabalho de se esforçarem por ele. Eu nunca conheci ninguém que tenha saltado dois anos por ser genial, alias, penso mesmo que isso nem é permitido, mas vamos passar a conhecer quem salte dois anos por ser um asno ou um preguiçoso!

Pois é verdade, este post já vai longo, mas mesmo assim podia-se dizer muito mais sobre o assunto. Os erros que agora cometemos, vão ser pagos bem caros e mais cedo do que se pode pensar. Não estamos a tratar apenas que questões de literacia, já de si extremamente importantes, mas mais ainda de uma questão de valores que esses sim estão em risco quando se apresentam estes caminhos de facilitismo. Não podemos esperar que depois de 12 anos de uma escola de brincadeira, que desvirtua o principio do trabalho e do esforço, saiam de lá bons profissionais, ou sequer pessoas que percebam a necessidade de se ser um bom profissional. Certamente pensarão "mesmo que eu não seja competente, o chefe vai-me promover para não me traumatizar". Enfim, por ultimo quero deixar aqui a manchete dos telejornais, que demonstram onde estão as preocupações do povo: “Nani estará apto para a Africa do Sul”, afinal está tudo bem.

Um grande bem haja,
GN

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Contas de merceeiro, e então?

Ora boas, tudo bem divertido neste feriado? Pois bem, hoje é dia de contas. Vá, nada de desesperos, não vai ser nada de muito complicado… Então é assim, quem já se apercebeu do impacto da subida do IVA na conta de supermercado?

(O propósito deste parágrafo é unicamente esperar que 75% dos dois leitores deste post abandonarem a página…)

Eu não paro de me arrepiar de cada vez que oiço alguém a encolher os ombros e a dizer-me “não percebo este alarido só por 1% de aumento, 1% não é nada…” (nesta altura quase tenho de recorrer à mnemónica do AVC para me certificar de que ainda estou bem).
Agora que já expliquei o que me faz indignar irei proceder a meia dúzia de contas simples que ajudam a perceber o quanto é esse famigerado 1%. Devo desde já avisar que são contas literalmente de merceeiro, por isso, e se por acaso alguém versado em  “contas” daquelas evoluídas dos economistas der por estes singelos exemplos, por favor, tenha dó de mim e não me desfaça em nada…

Para efeitos de simplicidade, vamos apenas considerar os produtos que são abrangidos pela taxa mínima (apesar de todas as taxas levarem agravamento de 1%, estou apenas a fazer referencia aquela que antes era taxada a 5 e que passará então a 6%). Acrescento também que, ao contrário do que José Sócrates quis passar com o triste exemplo da Coca-Cola, a taxa mínima é aplicada aos bens essenciais (pão, carne, água e todos os produtos de que nem ricos nem pobres não podem ficar sem comprar).
Usarei então o número redondo de €10,00/dia sem imposto (em bens essenciais). Uns gastam mais, outros menos. No final e se acrescentarmos os produtos considerados não essenciais é só extrapolar as contas já que estamos a falar de valores percentuais.

Exemplo diário:

Gasto diário sem imposto €10,00
Imposto de 5% €0,50
Agravamento de 1% €0,10

Nesta altura a “meia pessoa” que ainda estava a ler o post estará certamente a insultar-me por esta perda de tempo. Passarei então à extrapolação mensal e anual:

  Mensal (30 dias) Anual (365 dias)
Sem imposto €300,00 €3650,00
Imposto de 5% €15,00 €182,50
Agravamento de 1% €3,00 €36,50

Vá, ninguém estava à espera que neste exemplo bacoco tirasse daqui milhares de euros em 1%… Mas, analisem com alguma atenção, e reparem em quanto está a ser aumentado este imposto em particular! Ah pois é, o aumento é de 20% (resolvi por logo aqui a conta porque sei que ninguém a vai fazer). Se não acreditam, vejam:

Mensal €15 + 20% (€3,00) = €18
Anual €182,50 + 20% (€36,50)= €219,00

Agora digam-me então quantos de vocês conseguem viver com €300 por mês! Boa parte das pessoas que conheço gastam, contas redondas, próximo dos €1000 mensais (faça-se €900 mensais para ser “só” triplicar o valor) e pagarão por isso mais €109,50 anuais nesta subida de 1%.
Logicamente, aqui não estou a contar com os arredondamentos feitos pelo comércio (invariavelmente para cima, como todos sabemos). Só por curiosidade, e corrijam-se se estiver errado a subida do IRS (de 1% para a maioria de nós) terá também um impacto bastante significativo nas contas familiares. Assumindo €1000 a serem taxados em IRS (já sem Segurança social e afins): €1000 X 14 (meses) = €14.000,00 anuais. 1% de €14.000,00 = €140,00 anuais de IRS a acrescer ao que já se paga .

Pois é verdade, se alguém chegou até este ponto, desde já muito obrigado! Espero que estas contas de mercearia tenham ajudado a perceber como e menos de nada, e nestes “míseros” 1%’s nos veremos aliviados de mais €249,50 anuais neste agravamento (que até acho que são contas optimistas, para além de assumirem que o “aperto do cinto” se fica por aqui). Diria que é motivo para nos deixarmos de abstencionismos e pensarmos seriamente nas pessoas a quem atribuímos a responsabilidade de governar o país. Mas essas são outras contas…

Um grande bem haja,
GN

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A ciência da governação

Ora cá estamos mais uma vez! Meses passaram-se desde a ultima vez que aqui me manifestei, não por falta de motivos com que me indignar logicamente. Se calhar, para o tipo de assuntos que aqui trago, há até um excesso de assuntos, casos e mexericos para debater. O problema é claramente a escolha, que se dá por um de dois lados: ou é um assunto que ainda não foi suficientemente debatido (na minha maneira de ver) ou, como é o caso, já não é possível não emitir opinião.
Posto de lado este pequeno desabafo seguirei agora para a questão que aqui me traz. A nossa (des)governação.

“Portugal não é a Grécia”
”Portugal está a ser vitima de um ataque dos mercados”
”Portugal está a ser vitima de um ataque das agencias de rating”
”Portugal está…” em maus lençois… Devo desde já dizer que só concordo com a ultima frase (completada pela minha pessoa). Historicamente nós sempre fomos muito habilidosos a passar as culpas ao transeunte incauto. Aconteça o que acontecer a culpa nunca é nossa. Do estado do tempo aos mercados alguém, ou alguma coisa, tem de ficar com a responsabilidade do maus resultados que obtemos. Nunca nos passa pela cabeça assumir que cavámos a nossa própria situação, não nos preparando e/ou deliberadamente esperando pelas ajudas (que já assumimos como obrigatórias) de quem aforrou e preparou o seu futuro.

Portugal está a prestar-se à triste figura do parente pobre, e pouco inteligente, que passa a vida a engendrar esquemas e se acha um espertalhão, que vive à grande sempre fiado na mão segura dos amigos e familiares. Mas os tempos mudam e os que antes nos ajudavam hoje não estão tão disponíveis, seja por eles próprios não estarem tão bem como noutros tempos ou por simplesmente estarem fartos de ajudar quem não se ajuda!

Pergunto-me: como é que o governo tem a coragem de apontar o dedo a outros actores que não a si próprio? Num dia em que as sondagens dizem que o PS continuaria a ganhar as eleições e que Sócrates até sobe na popularidade, parece que essa questão fica respondida. Mas como? Será que os meus patrícios não vêem o mesmo que eu, ou será que sou eu que não vejo o mesmo que eles? Quando há mais de um ano as críticas à governação se foram acentuando, quando os avisos de toda a parte se foram sucedendo como pode o governo dizer que tudo isto é anormal e imprevisível? Manuela Ferreira Leite falou de um défice (Sócrates desmentiu antes das eleições e que não teve outro remédio senão admiti-lo depois), falou de um orçamente de Estado irreal (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão criar um orçamente rectificativo), voltou a falar da crise (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão criar o PEC), a oposição e a Europa falaram de uma crise mais profunda (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão seguir com um plano de austeridade). Alguém vê aqui um padrão? Caso não vejam, sigam atentamente o que se vai passar com o TGV, ou o Governo volta atrás ou faz a asneira de nos enterrar com mais uma obra inútil (de notar que Sócrates está “danadinho” para ter uma grande obra publica com o seu cunho, qual ditador que tem de se afirmar para a história).

Pois é verdade, neste post, ao contrário do que costumo tentar fazer, não avancei pelo “esmiuçar” de situações concretas, mas sim pela análise geral do que se tem sucedido na nossa governação em termos de rumo e ética (ou falta dela). Demonstro aqui também a minha incapacidade de perceber as reacções do nosso povo que, quando confrontado com atitudes de índole no mínimo duvidosas, não só não pune os responsáveis como parece até manter o seu apoio… Temo por Portugal. Temo que com a nossa passividade e clubismo de voto nos vejamos  embevecidamente a ir ao fundo, de vuvuzela nos lábios.

Um grande bem haja,
GN

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Questões fracturantes de fraco interesse

Em primeiro lugar Bom Ano a todos. Que tenham tido umas boas festas e que a roupa ainda vos sirva depois de terem passado os vossos dias a “montar guarda” à mesa de jantar (eu pelo menos estou com algumas dificuldades)…
Quanto ao tema que aqui me traz, vai para cerca de um mês que se iniciou o “interessante”, e aparentemente “fracturante”, tema dos casamentos homossexuais. É sempre bonito ver políticos abespinhados com as ideias dos seus opositores de bancada, mas ate que ponto é que faz sentido todo este alarido? Quem for seguindo a actualidade politica com alguma regularidade ficará certamente com a ideia de que não há temas mais importantes para debater, tal é o absurdo tempo de antena prestado a este assunto… Não estou com isto a tirar a devida importância à questão, acho que é importante e que deve ser resolvida (os mais atentos terão reparado que usei a expressão resolvida em vez de debatida). Mas chamar a isto um tema fracturante e merecedor de tantas horas de discussão vazia parece-me absurdo!
Entrarei agora na minha visão pessoal da coisa (atenção aos mais sensíveis, em especial se forem de algum partido cristão). Quando duas pessoas se casam para quem é que isso é fracturante? Tirando as próprias, familiares/amigos (mais abelhudos entenda-se) e alguma terceira pessoa que ficou com o coração despedaçado (ou "dor de cotovelo"), não é fracturante para ninguém! Confesso que não sou sensível ao casamento, parece-me desnecessário e aparentemente mau negócio, mas respeito quem quer casar (quem de nós não se meteu já em avisados maus lençóis com um sorriso nos lábios?) e digo isto quer o casal seja heterossexual ou homossexual.

Agora que já afastei tudo quanto é democrata cristão continuarei com a minha dissertação (único propósito de criar aqui um parágrafo, para além da questão estética).
No meio das muitas intervenções de deputados, ouvi uma particularmente macabra (foi do deputado Carlos Peixoto da bancada laranja) que disse, e passo a citar: “Se estamos a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então também podemos admitir, pelo mesmo princípio, casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos”. Penso que foi com sorte que este amor de pessoa não comparou o casamento homossexual ao “bestialismo” e à necrofilia. Enfim, nada como um ultra-conservador para dizer disparates amiúde mas sempre com um ar composto!   
Outras vozes se levantam também contra o casamento homossexual. Aparentemente há até uma associação que conseguiu juntar uma mão cheia de maduros que colectaram cerca de 90 mil assinaturas de pessoas que se gostam de meter na vida alheia (ironicamente esta associação exige um referendo, ferramenta da democracia, para impor uma limitação muito pouco democrática… Tapem os ouvidos aos militantes do PNR porque senão o próximo pedido de referendo vai continuar nesta linha algo fascista). A desculpa mais cómica é que a legalização do casamento gay é uma forma de desvirtuar os valores das famílias, pessoalmente diria que mal vai a família que perde os seus valores com base em acções de outros que ainda por cima não implicam com a sua vida…
Alguns, pseudoliberais, dizem-se a favor de uma união de facto “desde que não lhes chamem casamento”! Temos portanto a tese de “casamento” como palavra reservada. Isso não é sensivelmente o mesmo que dizer que as mulheres têm o direito à opinião mas “por favor não chamem a isso voto”? Ou, “aqui ninguém é racista, mas quem não for branco não deve ser considerado uma pessoa, chamem-lhes outra coisa qualquer(!)”?
Então e que tal deixarem-se de “mariquices” (termo bastante apropriado neste contexto) e meterem-se nas suas vidas? Com tantos problemas que o país enfrenta parece-me absurdo a quantidade de tempo desperdiçada neste assunto!
No seguimento deste tema há outro ponto muito interessante, a adopção por casais homossexuais. Será que devo prosseguir com a minha linha de pensamento? Enfim, tenho de desabafar… Desde “respeitáveis” deputados até aos mais ilustres desconhecidos em qualquer mesa de café, já todos ouvimos as mais diversas teses sobre este assunto. Já ouvi coisas escandalosas, desde referencias à suposta promiscuidade intrínseca da comunidade gay até aos impactos que uma situação de adopção deste género pode causar no desenvolvimento das crianças (parece que o problema está nos miúdos gozarem uns com os outros).
A primeira alegação parece-me patética. Haverá casais homossexuais promíscuos e com as suas taras, é certo, bem como também os há em casais heterossexuais (espantem-se senhores do CDS). Logicamente que não é qualquer um que pode adoptar uma criança, é preciso que o casal seja devidamente avaliado por um técnico de acção social que assegure que há condições para o bom desenvolvimento da mesma.
No que diz respeito à "gozação" de que as crianças serão vitimas... Enfim, palavras para quê? As crianças são seres particularmente cruéis e horríveis umas com as outras (meninas em particular, deixem-se de lamechices e observem os vossos “anõezinhos” no recreio da escola), quem não se lembra de no seu tempo de infância haver sempre uma mão cheia de desgraçados que eram gozados porque eram gordos ou tinham óculos (embora não tenha conhecido ninguém que soubesse estar entregue a uma instituição, certamente que as crianças também haveriam de gozar com isso)?
Por ultimo, aos que nem pensam antes de dizer que é fundamental uma criança crescer com uma figura de pai e uma figura de mãe, lembrem-se de que a criança que é posta para adopção não tem nem um nem outro... Foi vitima (e não venham com a famigerada historia da “vontade de Deus”) de uma concepção de um casal heterossexual, que, por opção ou por força das circunstancias relegam a criança a instituições.
Por uma vez, deveria-se por até o interesse das crianças em primeiro lugar e pensar no que seria melhor para elas! Será melhor serem acolhidas por alguém que as deseje e as ame, dando-lhes todas as condições para crescerem de forma sadia? Ou será que o desenvolvimento da criança deverá estar unicamente a cargo do estado, por vezes em condições dúbias e em falta de um carinho de alguém que possa ser reconhecido como pai e mãe (vá, não peguem nesta frase para distorcer tudo o que disse até agora) para satisfazer os preconceitos da sociedade?

Pois é verdade, em tempos de crise perde-se tempo com questões que nem deveriam ser questões... Tende-se a misturar todo um conjunto de preconceitos e crenças religiosas para justificar algo que não tem justificação e em nomes de valores no mínimo duvidosos.
A quem ler este post espero que possa reflectir nesta opinião, e se possível dê o seu contributo com um comentário.

Um grande bem haja,
GN