sexta-feira, 21 de maio de 2010

A ciência da governação

Ora cá estamos mais uma vez! Meses passaram-se desde a ultima vez que aqui me manifestei, não por falta de motivos com que me indignar logicamente. Se calhar, para o tipo de assuntos que aqui trago, há até um excesso de assuntos, casos e mexericos para debater. O problema é claramente a escolha, que se dá por um de dois lados: ou é um assunto que ainda não foi suficientemente debatido (na minha maneira de ver) ou, como é o caso, já não é possível não emitir opinião.
Posto de lado este pequeno desabafo seguirei agora para a questão que aqui me traz. A nossa (des)governação.

“Portugal não é a Grécia”
”Portugal está a ser vitima de um ataque dos mercados”
”Portugal está a ser vitima de um ataque das agencias de rating”
”Portugal está…” em maus lençois… Devo desde já dizer que só concordo com a ultima frase (completada pela minha pessoa). Historicamente nós sempre fomos muito habilidosos a passar as culpas ao transeunte incauto. Aconteça o que acontecer a culpa nunca é nossa. Do estado do tempo aos mercados alguém, ou alguma coisa, tem de ficar com a responsabilidade do maus resultados que obtemos. Nunca nos passa pela cabeça assumir que cavámos a nossa própria situação, não nos preparando e/ou deliberadamente esperando pelas ajudas (que já assumimos como obrigatórias) de quem aforrou e preparou o seu futuro.

Portugal está a prestar-se à triste figura do parente pobre, e pouco inteligente, que passa a vida a engendrar esquemas e se acha um espertalhão, que vive à grande sempre fiado na mão segura dos amigos e familiares. Mas os tempos mudam e os que antes nos ajudavam hoje não estão tão disponíveis, seja por eles próprios não estarem tão bem como noutros tempos ou por simplesmente estarem fartos de ajudar quem não se ajuda!

Pergunto-me: como é que o governo tem a coragem de apontar o dedo a outros actores que não a si próprio? Num dia em que as sondagens dizem que o PS continuaria a ganhar as eleições e que Sócrates até sobe na popularidade, parece que essa questão fica respondida. Mas como? Será que os meus patrícios não vêem o mesmo que eu, ou será que sou eu que não vejo o mesmo que eles? Quando há mais de um ano as críticas à governação se foram acentuando, quando os avisos de toda a parte se foram sucedendo como pode o governo dizer que tudo isto é anormal e imprevisível? Manuela Ferreira Leite falou de um défice (Sócrates desmentiu antes das eleições e que não teve outro remédio senão admiti-lo depois), falou de um orçamente de Estado irreal (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão criar um orçamente rectificativo), voltou a falar da crise (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão criar o PEC), a oposição e a Europa falaram de uma crise mais profunda (Sócrates desmentiu e depois não teve outro remédio senão seguir com um plano de austeridade). Alguém vê aqui um padrão? Caso não vejam, sigam atentamente o que se vai passar com o TGV, ou o Governo volta atrás ou faz a asneira de nos enterrar com mais uma obra inútil (de notar que Sócrates está “danadinho” para ter uma grande obra publica com o seu cunho, qual ditador que tem de se afirmar para a história).

Pois é verdade, neste post, ao contrário do que costumo tentar fazer, não avancei pelo “esmiuçar” de situações concretas, mas sim pela análise geral do que se tem sucedido na nossa governação em termos de rumo e ética (ou falta dela). Demonstro aqui também a minha incapacidade de perceber as reacções do nosso povo que, quando confrontado com atitudes de índole no mínimo duvidosas, não só não pune os responsáveis como parece até manter o seu apoio… Temo por Portugal. Temo que com a nossa passividade e clubismo de voto nos vejamos  embevecidamente a ir ao fundo, de vuvuzela nos lábios.

Um grande bem haja,
GN