sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Questões fracturantes de fraco interesse

Em primeiro lugar Bom Ano a todos. Que tenham tido umas boas festas e que a roupa ainda vos sirva depois de terem passado os vossos dias a “montar guarda” à mesa de jantar (eu pelo menos estou com algumas dificuldades)…
Quanto ao tema que aqui me traz, vai para cerca de um mês que se iniciou o “interessante”, e aparentemente “fracturante”, tema dos casamentos homossexuais. É sempre bonito ver políticos abespinhados com as ideias dos seus opositores de bancada, mas ate que ponto é que faz sentido todo este alarido? Quem for seguindo a actualidade politica com alguma regularidade ficará certamente com a ideia de que não há temas mais importantes para debater, tal é o absurdo tempo de antena prestado a este assunto… Não estou com isto a tirar a devida importância à questão, acho que é importante e que deve ser resolvida (os mais atentos terão reparado que usei a expressão resolvida em vez de debatida). Mas chamar a isto um tema fracturante e merecedor de tantas horas de discussão vazia parece-me absurdo!
Entrarei agora na minha visão pessoal da coisa (atenção aos mais sensíveis, em especial se forem de algum partido cristão). Quando duas pessoas se casam para quem é que isso é fracturante? Tirando as próprias, familiares/amigos (mais abelhudos entenda-se) e alguma terceira pessoa que ficou com o coração despedaçado (ou "dor de cotovelo"), não é fracturante para ninguém! Confesso que não sou sensível ao casamento, parece-me desnecessário e aparentemente mau negócio, mas respeito quem quer casar (quem de nós não se meteu já em avisados maus lençóis com um sorriso nos lábios?) e digo isto quer o casal seja heterossexual ou homossexual.

Agora que já afastei tudo quanto é democrata cristão continuarei com a minha dissertação (único propósito de criar aqui um parágrafo, para além da questão estética).
No meio das muitas intervenções de deputados, ouvi uma particularmente macabra (foi do deputado Carlos Peixoto da bancada laranja) que disse, e passo a citar: “Se estamos a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então também podemos admitir, pelo mesmo princípio, casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos”. Penso que foi com sorte que este amor de pessoa não comparou o casamento homossexual ao “bestialismo” e à necrofilia. Enfim, nada como um ultra-conservador para dizer disparates amiúde mas sempre com um ar composto!   
Outras vozes se levantam também contra o casamento homossexual. Aparentemente há até uma associação que conseguiu juntar uma mão cheia de maduros que colectaram cerca de 90 mil assinaturas de pessoas que se gostam de meter na vida alheia (ironicamente esta associação exige um referendo, ferramenta da democracia, para impor uma limitação muito pouco democrática… Tapem os ouvidos aos militantes do PNR porque senão o próximo pedido de referendo vai continuar nesta linha algo fascista). A desculpa mais cómica é que a legalização do casamento gay é uma forma de desvirtuar os valores das famílias, pessoalmente diria que mal vai a família que perde os seus valores com base em acções de outros que ainda por cima não implicam com a sua vida…
Alguns, pseudoliberais, dizem-se a favor de uma união de facto “desde que não lhes chamem casamento”! Temos portanto a tese de “casamento” como palavra reservada. Isso não é sensivelmente o mesmo que dizer que as mulheres têm o direito à opinião mas “por favor não chamem a isso voto”? Ou, “aqui ninguém é racista, mas quem não for branco não deve ser considerado uma pessoa, chamem-lhes outra coisa qualquer(!)”?
Então e que tal deixarem-se de “mariquices” (termo bastante apropriado neste contexto) e meterem-se nas suas vidas? Com tantos problemas que o país enfrenta parece-me absurdo a quantidade de tempo desperdiçada neste assunto!
No seguimento deste tema há outro ponto muito interessante, a adopção por casais homossexuais. Será que devo prosseguir com a minha linha de pensamento? Enfim, tenho de desabafar… Desde “respeitáveis” deputados até aos mais ilustres desconhecidos em qualquer mesa de café, já todos ouvimos as mais diversas teses sobre este assunto. Já ouvi coisas escandalosas, desde referencias à suposta promiscuidade intrínseca da comunidade gay até aos impactos que uma situação de adopção deste género pode causar no desenvolvimento das crianças (parece que o problema está nos miúdos gozarem uns com os outros).
A primeira alegação parece-me patética. Haverá casais homossexuais promíscuos e com as suas taras, é certo, bem como também os há em casais heterossexuais (espantem-se senhores do CDS). Logicamente que não é qualquer um que pode adoptar uma criança, é preciso que o casal seja devidamente avaliado por um técnico de acção social que assegure que há condições para o bom desenvolvimento da mesma.
No que diz respeito à "gozação" de que as crianças serão vitimas... Enfim, palavras para quê? As crianças são seres particularmente cruéis e horríveis umas com as outras (meninas em particular, deixem-se de lamechices e observem os vossos “anõezinhos” no recreio da escola), quem não se lembra de no seu tempo de infância haver sempre uma mão cheia de desgraçados que eram gozados porque eram gordos ou tinham óculos (embora não tenha conhecido ninguém que soubesse estar entregue a uma instituição, certamente que as crianças também haveriam de gozar com isso)?
Por ultimo, aos que nem pensam antes de dizer que é fundamental uma criança crescer com uma figura de pai e uma figura de mãe, lembrem-se de que a criança que é posta para adopção não tem nem um nem outro... Foi vitima (e não venham com a famigerada historia da “vontade de Deus”) de uma concepção de um casal heterossexual, que, por opção ou por força das circunstancias relegam a criança a instituições.
Por uma vez, deveria-se por até o interesse das crianças em primeiro lugar e pensar no que seria melhor para elas! Será melhor serem acolhidas por alguém que as deseje e as ame, dando-lhes todas as condições para crescerem de forma sadia? Ou será que o desenvolvimento da criança deverá estar unicamente a cargo do estado, por vezes em condições dúbias e em falta de um carinho de alguém que possa ser reconhecido como pai e mãe (vá, não peguem nesta frase para distorcer tudo o que disse até agora) para satisfazer os preconceitos da sociedade?

Pois é verdade, em tempos de crise perde-se tempo com questões que nem deveriam ser questões... Tende-se a misturar todo um conjunto de preconceitos e crenças religiosas para justificar algo que não tem justificação e em nomes de valores no mínimo duvidosos.
A quem ler este post espero que possa reflectir nesta opinião, e se possível dê o seu contributo com um comentário.

Um grande bem haja,
GN