sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Intenções… Boas ou más, vão ter o seu efeito

No final do post de ontem deixei umas questões no ar (que intenções terá tido Cavaco Silva no caso das escutas) que agora tenciono finalizar.

Como todos sabem, o caso é rebuscado. Um tal diz que disse (não vou voltar por aí, quem quiser que leia o post anterior lol) que não esclarece ninguém e que mantém a duvida sobre a integridade das duas instituições mais importantes de uma democracia. O mais interessante é que quando me pergunto “a quem é que isto serve?” a única resposta que me ocorre é “ao povo português não é de certeza!”, na verdade, a curto prazo até parece não beneficiar ninguém. O PSD (partido que apoiou o Presidente) perdeu as eleições sem ser perdido nem achado nesta confusão, o PS lá venceu as legislativas mas fica agora com mais uma nuvem de suspeição (gravíssima) sobre a sua cabeça e Cavaco Silva perde a confiança dos portugueses que não percebem as suas eventuais intenções…

Quanto ao rol de intenções possíveis para este caso, tem-se ouvido de tudo… Desde inocência a senilidade até passar por “agendas escondidas” (expressão muito em voga) para iniciar uma espécie de presidencialismo. Até ver, a única opinião que me parece unânime é que Cavaco Silva deu um verdadeiro “tiro no pé”. A tese da inocência é inaceitável, ninguém acredita que um homem que anda na politica há décadas não perceba o que se está a passar à sua volta e na gravidade das suas acções (ou da falta delas). Ainda por cima não estamos a falar de algo que foi perguntado de forma traiçoeira por algum jornalista e que exigisse uma resposta de algibeira (bem sei que o comunicado demorou 11 minutos, mas certamente que não são necessário 11 dias para se escrever tal coisa). Quanto à alegada senilidade, como foi avançada por Ana Gomes, enfim, nem merece comentários… As “agendas escondidas” são por isso as teses mais avançadas, embora entrem rapidamente em descrédito graças à confusão gerada! Temos então estas duas:

  1. Enfraquecimento do PS para antecipar eleições.
    Acaba por ser a minha preferida, embora confesse que também não estou a ver a coisa a correr pelo melhor. Primeiro porque não acredito que fosse necessário enfraquecer o PS, os seus dirigentes já estavam a fazer um excelente trabalho nesse sentido e este episodio acabou por lhes dar um certo fôlego nas eleições (levando mesmo à vitória). Alguns dirão que, se não se tivesse dado isto, tínhamos um governo minoritário do PSD que não se ia aguentar por mais de dois anos, mas, e assim? Desde que me lembro por gente que vejo no PSD um partido verdadeiramente “canibal”, prova disso ainda nem se tinha iniciado a preparação para as autárquicas e já tínhamos pedidos pela cabeça de Manuela Ferreira Leite, o que compromete a performance do PSD numas próximas legislativas a curto prazo. Há também questões legais que limitam a actuação do Presidente da Republica para convocar novas legislativas (há o período de inicio de governo, em que este não pode ser deposto, e o período prévio de eleições para a presidência em que Cavaco Silva vê os seus poderes limitados nesse campo, isto deixa-o muito limitado em termos de datas possíveis para actuar). Ou seja, a margem de manobra é pouca e qualquer que seja a sua opção arrisca-se a não renovar o mandato de presidente (já se juntam vozes no PS a pedir as candidaturas de Jorge Sampaio ou de Manuel Alegre, vamos evitar a piada fácil de se candidatarem os dois…).
  2. Arrecadar poder para si próprio e iniciar uma espécie de presidencialismo.
    Enfim, é interessante pensar nesta hipótese, muitos são os defensores deste tipo de governação. Honestamente nunca me debrucei muito sobre o assunto e também não será agora que vou equacionar os prós e contras de outras formas de governar o país. Legalmente penso que estará fora de questão, não estou por dentro do processo, mas assumo que a nossa constituição não permita tal façanha…

Pois é verdade, estou que pareço o Presidente de todos nós, digo tudo e o seu contrário e não me comprometo com nada… Parece que isto não está a correr muito bem, mas a verdade é que estou a fazer omeletas sem ovos. Por agora o meu pressentimento é este, ou à boa maneira portuguesa vamos todos assobiar para o lado e esquecer o assunto, ou vamos ter um caos institucional que começa com a dissolução da assembleia e sabe-se lá onde vai terminar…

Um grande bem haja,
GN

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