segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Chocolate Contradanças

Já tenho a vossa atenção? O titulo foi nesse sentido pelo menos. Prosseguindo…

O caso “face oculta” andava a passar-me ao lado. Já estou um bocado saturado de “casos” que aparecem com todo o mediatismo e depois dão em nada porque inexplicavelmente morrem sempre nos tribunais. No entanto, ao saber que este “doce de pessoa” estava indiciada mudei logo a minha postura e percebi que tinha de me inteirar da situação, e em boa hora o fiz! Apesar de repetitiva é sempre cómico ver este tipo de fenómenos a serem divulgados pela comunicação social. A primeira parte é sempre um pouco monótona, há senhores que revelam as noticias, carregadas de dramatismo, levam a publico os malvados que se andam a aproveitar dos dinheiros do povo. Até aqui raramente há algo de novo a apontar, eventualmente vão diferindo os esquemas que levam ao saque e os montantes em causa (tipicamente os montantes são tão elevados que mais milhão menos milhão já soa tudo ao mesmo), mas acho pouco interessante, é como não ver um jogo de futebol para depois andar a ver tudo quanto é resumo e comentário – apenas interessa aos mais tecnicistas. Eu cá gosto mesmo é do jogo em si! Gosto do chorrilho de disparates que se dizem, rio-me com as desculpas esfarrapadas e insulto aos árbitros quando estes dizem “Alto! Usar escutas já é batota!”. Isto sim faz vibrar, isto é espectáculo, isto é… Portugal no seu melhor.

Antes de qualquer dissertação da minha parte tenho uma sugestão: a criação de um manual de escutas para a PJ! Certamente que os senhores do outrora “Novo Mundo” já terão criado algo do tipo “Surveillance for dummies – phone tapping for complete idiots” (o qual carinhosamente traduzo para: “vigilância para totós – escutas telefónicas para perfeitos idiotas”).
Sim, sei que neste caso até estou a ser algo injusto, mas em abono da verdade acho que nunca vi nenhuma escutas com o mínimo de relevância a não serem anuladas. Há sempre qualquer coisa que as anula e tipicamente é sempre um pedido ou um impresso que não entrou a tempo e horas no tribunal para que as mesmas possam ser utilizadas.
Neste caso a coisa torna-se bem mais sórdida. Foram autorizadas as escutas a Armando Vara que terá tido conversas telefónicas com José Sócrates. Como o Primeiro-Ministro aparece em conversas, aparentemente pouco recomendáveis já que foram pedidas certidões das escutas resultantes, agora pede-se a nulidade das mesmas. Ora, o pedido de escutas foi feito para Armando Vara, logo, que sentido faz anular as mesmas só porque aparece o Primeiro-Ministro? Aparentemente o PS achou que isso fazia extremo sentido, daí ter aproveitado a legislatura passada para aprovar uma lei que impede que escutas que “envolvam” o Primeiro-Ministro, o Presidente da Republica ou o Presidente da Assembleia sejam utilizadas sem a prévia aprovação do Supremo Tribunal de Justiça. De resto bem se vê a preocupação de José Sócrates quando publicamente questiona há quanto tempo anda a ser escutado e se isso é legal. Segundo ele próprio, essas e que são as questões que ele quer ver respondidas!

Pois é verdade, continuamos a viver num país de barões, onde o factor “C” vale mais do que qualquer outro. Mantemo-nos  na nossa vidinha, indiferentes à falta de vergonha dos nossos governantes e da generalidade dos agentes de poder. Longe vai o tempo em que quando saia um escândalo deste calibre o acusado se desfazia em justificações (desculpas não pagam dividas e justificações de pouco ou nada adiantam, mas pelo menos havia um mínimo de vergonha por parte dos participantes). Agora passam logo ao ataque, viram a mesa e acusam-se as autoridades judiciais de atentarem ao seu bom nome! Gritam justiça (?) e mesmo depois de se saber os conteúdos das escutas (Apito Dourado por exemplo) ou de o tribunal os condenar à prisão com pena suspensa (o inesquecível caso Fátima Felgueiras) vêm para a porta dos tribunais dizer que justiça foi feita e que como se provou, não só estão inocentes (?), como são pessoas de bom nome, sérias e honradas como não há outras!
Caríssimos, se ponderam incorrer em actos de legalidade duvidosa avaliem bem a vossa condição. Uma coisa é certa, se não forem suficientemente ricos e influentes ou se não forem suficientemente miseráveis e atacarem em bandos, é certo e sabido que vão estar atolados em algum processo judicial que pode terminar bastante mal para a vossa parte, caso contrário, parece que o crime compensa...

Um grande bem haja,
GN

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